As janelas e a economia circular
Artur Mexia | Vice-presidente da ANFAJE24/09/2021
Os tempos que correm são particularmente desafiantes no que se refere à nossa postura enquanto ocupantes temporários do espaço terrestre.
O desenvolvimento tecnológico que caracterizou o século XX trouxe-nos inegáveis avanços que nos levaram a um grau de exigência extremo e a um comportamento de consumo pouco racional. E, como se não bastasse o aumento exorbitante na exploração de recursos, exaurindo muitas vezes a fonte de matérias-primas, também não houve o cuidado necessário no tratamento e gestão dos resíduos gerados.
Hoje, já bem avançados no século XXI, apesar de pretensamente termos assumido uma consciência ambiental, deixámos de actuar e pensar em modo “local” para agir e promover o modo “global”. E o reflexo desta atitude acaba por resultar numa maximização dos efeitos perversos à escala planetária. Debatemo-nos com os impactos de decisões pouco ponderadas na forma de optimizar o uso dos produtos, de analisar o seu ciclo de vida, de pensar no efeito para a sustentabilidade do planeta e para a qualidade do legado para as gerações futuras.
A única forma de contermos os efeitos perniciosos do crescimento do consumo de bens no meio ambiente é assumir um comportamento responsável de preservação dos recursos de todo o tipo, aplicando a teoria dos três R da protecção ambiental (reciclar, reutilizar, reduzir).
A circularidade na economia aposta principalmente na reutilização e reciclagem de produtos e componentes e, no mundo das janelas, esta atitude é de especial importância para garantir uma aplicação criteriosa e sustentável dos materiais.
A circularidade na economia aposta principalmente na reutilização e reciclagem de produtos e componentes e, no mundo das janelas, esta atitude é de especial importância para garantir uma aplicação criteriosa e sustentável dos materiais
Nos projectos de reabilitação, a decisão mais frequente e imediata é a de substituir as caixilharias. A reutilização das janelas existentes não é uma tarefa fácil. Contudo, uma análise mais ponderada e criteriosa das janelas existentes e das características dos vãos e da envolvente em que se inserem, poderá levar a uma recomendação de aplicação de uma segunda janela, mais simples e económica, mantendo e recuperando a existente. Uma tal medida pode representar uma poupança monetária, evitar a produção de resíduos e melhorar significativamente o desempenho da janela a nível térmico, acústico e de estanquidade.
A reciclagem é outro vetor de suma importância, tanto na tomada de decisão de substituição das janelas como no tratamento dos resíduos resultantes do levantamento das caixilharias antigas.
O vidro, elemento dominante na fabricação de janelas, tem uma capacidade inesgotável de incorporação na produção de novo material.
Na fase actual de reabilitação já estão a ser levantadas muitas janelas de alumínio frio. Esse material pode ser refundido e reutilizado infinitamente e muitas marcas estão já a explorar essa capacidade usando ligas de extrusão que incorporam percentagens muito elevadas de alumínio reciclado proveniente de aplicações anteriores em obra.
E noutros materiais, dos perfis a outros componentes e acessórios, podem explorar-se utilizações similares, gerando compósitos ou subprodutos de incorporação em diversos materiais de construção.
Na verdade, já Lavoisier postulava no século XVIII que, na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
E não é preciso rolarem cabeças para pôr em prática uma estratégia de gestão assente em economia circular que aposte na reintegração de componentes no circuito produtivo, salvaguarde o uso parcimonioso da exploração dos recursos naturais, reduza a pegada ecológica introduzida pelos processos produtivos da indústria transformadora e permita a criação de condições de conforto e habitabilidade a que já nos habituámos, sem exageros e fundamentalismos.
Nota: a ANFAJE escreve segundo as regras do antigo Acordo Ortográfico.
