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“O fortalecimento da rede Passive House passa por trabalhar junto dos fabricantes”

Entrevista com João Marcelino, presidente da Associação Passivhaus Portugal

Ana Clara20/05/2022

João Marcelino aborda nesta entrevista os dez anos da associação em Portugal e analisa o caminho trilhado em matéria de Passive House na última década. Uma celebração que será evocada na conferência anual da Associação Passivhaus Portugal que se realiza em Aveiro, nos dias 25 e 26 de outubro. O presidente da direção realça ainda que, nos diferentes cursos oficiais, “já temos mais de 500 formandos em Portugal” sendo “uma amostra interessante”. Contudo, sublinha, “ainda há muito trabalho” a fazer para “generalizar o conceito junto dos construtores, técnicos e projetistas”.

Primeira Passive House certificada no setor do turismo em Portugal. Costa Nova, Ílhavo
Primeira Passive House certificada no setor do turismo em Portugal. Costa Nova, Ílhavo.

Em 2022, a conferência Passivhaus Portugal está de regresso ao seu formato físico e a Aveiro, em outubro. Quais são as perspetivas para esta edição, após este período de pandemia e que temas centrais serão incontornáveis?

Pretendemos com a 10ª edição da Conferência Passivhaus Portugal, acima de tudo, reunir novamente todo o setor naquele que é o maior evento em Portugal sobre Passive House e nZEB. O programa da conferência está a ser trabalhado e desenvolvido mas será dentro do modelo habitual. Procuraremos dar uma importante ênfase aos projetos nacionais bem como trazer oradores internacionais de excelência. Será também uma conferência especial por outro motivo, em 2022, a Associação Passive House Portugal celebra os 10 anos de atividade e a conferência será o evento final da comemoração desta celebração.

Qual a radiografia que é possível traçar atualmente do setor da Passive House e como tem sido o caminho trilhado em Portugal?

Este percurso começou do zero. Não havia nada em Portugal relativo à Passive House, com a exceção do projeto europeu ‘Passive-On’, terminado em 2007 ou um estudo do Jürgen Schnieders de 2009. Hoje já podemos, com muito orgulho, falar de um setor ou rede Passive House com bastante massa crítica. Estes 10 anos de trabalho serviram para criar e fortalecer esta rede Passive House em Portugal. Durante este percurso, como é natural, houve momentos de menor e de maior aceleração, houve parcerias e envolvimento em redes e grupos de trabalho que não partilhavam a mesma visão. O fortalecimento da rede Passive House passa por trabalhar junto dos fabricantes para promover os componentes e produtos adequados à Passive House, por continuar a divulgar a Passive House para o público geral, continuar a fazer crescer o número de profissionais e técnicos com formação Passive House e por trabalhar junto das universidades com atribuição de bolsas para a formação oficial Passive House e no desenvolvimento de teses e investigação sobre a Passive House.

Nos diferentes cursos oficiais Passive House já temos mais de 500 formandos em Portugal, já é uma amostra interessante, mas ainda há muito trabalho para generalizar o conceito junto dos construtores, dos técnicos e projetistas.

João Marcelino
João Marcelino.

Já são muitas as empresas a entrarem em projetos Passive House. Como tem sido essa aproximação empresarial ao conceito?

Essa foi uma das principais preocupações desde o início, estabelecer e fortalecer a ligação aos fabricantes e detentores de sistemas. Eles são um dos pilares da rede Passive House em Portugal. Temos como parceiros, empresas multinacionais onde a Passive House já está no seu core nas ‘casas-mãe’ mas também muitas empresas nacionais a apostarem na diferenciação através da Passive House. Temos já alguns componentes Passive House certificados de empresas portuguesas.

Este envolvimento dos parceiros é benéfico para todas as partes porque finalmente começa a haver a valorização, tecnicamente fundamentada, dos bons componentes construtivos e porque os parceiros são também um privilegiado veículo de disseminação da Passive House.

O conforto durante todo o ano é uma caraterística fundamental dos projetos Passive House. Para tal, o planeamento de um projeto é essencial para obter a qualidade pretendida a este nível. É difícil? Em que medida?

A ideia de conforto está inerente à ideia de uma Passive House e podemos integrá-la no conceito mais alargado de qualidade do ambiente interior. Estamos a falar de conforto térmico em toda a sua dimensão, não só a temperatura operativa, mas também a ausência de assimetrias relevantes entre a temperatura operativa e as temperaturas superficiais no compartimento e a ausência duma elevada estratificação da temperatura em altura no compartimento. Mas também falamos de conforto acústico e de boa qualidade do ar.

E esta qualidade do ambiente interior é um dos principais aspetos para avaliar o desempenho de um edifício. Outro é a quantidade de energia necessária para operar o edifício e assegurar essa qualidade do ambiente interior. E a otimização do desempenho ocorre, sobretudo, ao nível do projeto e das primeiras opções tomadas no projeto de arquitetura. Para além dos cinco pilares da Passive House (isolamento adequado, boas janelas, minimização das pontes térmicas, estanquidade ao ar da envolvente do edifício e ventilação mecânica com recuperação de calor) há ainda outras estratégias de projeto para otimizar o desempenho como a simplicidade, a forma e a orientação do edifício.

Dada a realidade do setor da construção em Portugal, diria que o maior desafio está em alcançar o requisito da estanquidade ao ar, uma vez que é algo que não é exigido regulamentarmente, ao contrário de grande parte dos países europeus, nem é medido regularmente nas construções.

Habitação unifamiliar, Ílhavo
Habitação unifamiliar, Ílhavo.

As janelas são um dos elementos que têm vindo a ganhar relevância no contexto de uma casa passiva. Em que medida é que a escolha da área e das janelas impacta com a eficiência energética de uma Passive House?

As janelas são o elemento crucial na envolvente de qualquer edifício, em geral, e na Passive House, em particular. As janelas são o elemento construtivo da envolvente com o mais elevado valor de U (coeficiente de transmissão térmica) e que pode ser 4 ou 5 vezes superior ao valor de U das paredes ou cobertura, por exemplo. Mas por outro lado, as janelas são o elemento construtivo da envolvente que permite ter efetivos ganhos de calor, por via da radiação solar. As janelas são também, normalmente, muito mais caras que as soluções de parede ou cobertura, por metro quadrado. Por tudo isto e para otimizar o desempenho e o custo benefício, tem de haver um grande cuidado da definição e prescrição da solução de janelas e que envolve desde a escolha do tipo de caixilharia ao sistema de abertura e funcionamento, desde o tipo de vidro (duplo ou triplo) e das capas ao do gás que preenche a câmara, desde o perfil intercalar que separa os vidros até à instalação da janela e à forma como ela é ligada ao suporte.

As janelas são o elemento crucial na envolvente de qualquer edifício, em geral, e na Passive House, em particular

É claro para o mercado que as Passive House ajudam, e muito, a reduzir consumos, contribuem para a eficiência energética e são exemplos de sustentabilidade, pelos materiais utilizados e certificações exigidas. Considera que os portugueses já têm consciência da verdadeira importância de uma casa passiva e do relevante que podem ser para combater a pobreza energética?

Já podemos afirmar que a Passive House é cada vez mais reconhecida como o expoente máximo ao nível do desempenho dos edifícios, do conforto, bem-estar e eficiência energética. Se por um lado temos assistido a um interesse cada vez maior pela Passive House, por parte de clientes finais ou promotores, por outro, sabemos que ainda há muito trabalho a fazer na disseminação do conceito e desmistificação de alguns preconceitos e ideias feitas. A preocupação com o desempenho do edifício é cada vez maior por parte dos portugueses, sobretudo quando se trata do maior investimento que é feito a nível familiar, como a construção ou aquisição de casa própria. Esta maior consciencialização leva à priorização de aspetos que antes não eram tão valorizados como a qualidade do isolamento térmico, das janelas, dos sistemas e equipamentos. E durante a pandemia verificamos o crescimento desse interesse, porventura devido ao maior uso das nossas casas tenha havido uma maior consciencialização para a qualidade dos ambientes onde vivemos. Um aspeto que é extremamente relevante e que temos procurado demonstrar é que uma casa não será mais cara por ser ou não ser Passive House. Ou melhor, não é por ser Passive House que um edifício terá obrigatoriamente de ser mais caro. Esta otimização do custo-benefício depende da inteligência incorporada no projeto, daí a necessidade de termos cada vez mais projetistas, em particular arquitetos, com estas competências.

Quatro edifícios certificados e seis em processo avançado de certificação

Quantas Passive Houses certificadas existem em Portugal?

Existem quatro edifícios certificados e seis em processo avançado de certificação. À semelhança do que ocorre a nível internacional, os edifícios certificados representam uma pequena fração de todas as Passive Houses. O processo de certificação representa a garantia do cumprimento de todos os requisitos, com a verificação por parte de um certificador acreditado pelo Passivhaus Institut. É um processo que acompanha as fases de projeto e de construção, sendo por isso muito longo e exigente. Mas é a certificação que permite separar o trigo do joio.

Como olha hoje para as políticas do País em matéria de descarbonização e eficiência energética a nível das várias indústrias?

Achamos que falta um plano para a transição total do parque edificado para níveis de elevado desempenho, e como tal não há metas mensuráveis claras nem um pensamento estruturado sobre como alcançar essas metas. Assistimos também a muitas contradições. Temos por parte dos fabricantes a capacidade de disponibilizar produtos e componentes de excelente desempenho e com ótimo custo-benefício mas ainda alguma dificuldade em obra na sua aplicação e instalação, como é o caso gritante da instalação das janelas. Temos a legislação que é produzida para deixar tudo na mesma, como o caso dos nZEB, adiando a necessária transformação. Vemos também na ELPRE – Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos Edifícios o objetivo de ter todo o parque edificado reabilitado em 2050 mas sabemos que Portugal é o país da União Europeia onde as intervenções de reabilitação menos contribuem para a melhoria do desempenho energético. Por tudo isto, e mesmo sabendo que é ambicioso, procuramos com a rede Passive House trabalhar para a convergência neste objetivo de termos Passive House para todos, independentemente daquilo que é definido por via regulamentar ou pelas metas europeias.
nZEBoffice+, Ílhavo
nZEBoffice+, Ílhavo.

Na Europa, por exemplo, qual o país (ou países) exemplo(s) em matéria de Passive House e onde o conceito já é amplamente utilizado?

Para além da Alemanha, onde surgiram as primeiras Passive Houses e onde está sediado o Passivhaus Institut, porventura os países com maiores avanços ao nível da implementação da Passive House sejam o Reino Unido e a Espanha. Tem havido nestes países uma aposta muito relevante e transformadora que é na habitação social e de custos controlados, com muitos exemplos de investimento público em edifícios e empreendimentos Passive House para estes programas. Existem também os estados ou regiões que já adotaram há mais de meia dúzia de anos o desempenho passivo ou mesmo Passive House como o standard de cumprimento obrigatório, como o Luxemburgo, a região de Bruxelas ou a cidade de Frankfurt, por exemplo.

Fale-me um pouco do trabalho da Associação Passivhaus Portugal e do trabalho que tem desenvolvido em Portugal.

O foco do trabalho da Associação Passivhaus Portugal nestes 10 anos esteve e continuará a estar no fortalecimento e crescimento da rede Passive House no País e na divulgação e disseminação do conceito. A rede Passive House assenta sobretudo na relação com os fabricantes e marcas, na capacidade instalada ao nível de técnicos, consultores e projetistas, que possibilite a construção de Passive Houses em qualquer parte do País, e na relação com a academia onde foram estabelecidos protocolos com algumas universidades, faculdades e departamentos e já com resultados. Ao nível da divulgação e disseminação do trabalho, tem passado desde o início em disponibilizar o máximo de informação de qualidade no nosso site de forma totalmente livre e acessível a todos. Falamos, por exemplo, de todo o conteúdo das conferências, seminários e workshops, da base de dados de soluções construtivas dos parceiros da rede, ou das muitas dezenas de artigos do blog. E vamos ter outras novidades muito em breve.

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