João Marcelino aborda nesta entrevista os dez anos da associação em Portugal e analisa o caminho trilhado em matéria de Passive House na última década. Uma celebração que será evocada na conferência anual da Associação Passivhaus Portugal que se realiza em Aveiro, nos dias 25 e 26 de outubro. O presidente da direção realça ainda que, nos diferentes cursos oficiais, “já temos mais de 500 formandos em Portugal” sendo “uma amostra interessante”. Contudo, sublinha, “ainda há muito trabalho” a fazer para “generalizar o conceito junto dos construtores, técnicos e projetistas”.
Pretendemos com a 10ª edição da Conferência Passivhaus Portugal, acima de tudo, reunir novamente todo o setor naquele que é o maior evento em Portugal sobre Passive House e nZEB. O programa da conferência está a ser trabalhado e desenvolvido mas será dentro do modelo habitual. Procuraremos dar uma importante ênfase aos projetos nacionais bem como trazer oradores internacionais de excelência. Será também uma conferência especial por outro motivo, em 2022, a Associação Passive House Portugal celebra os 10 anos de atividade e a conferência será o evento final da comemoração desta celebração.
Este percurso começou do zero. Não havia nada em Portugal relativo à Passive House, com a exceção do projeto europeu ‘Passive-On’, terminado em 2007 ou um estudo do Jürgen Schnieders de 2009. Hoje já podemos, com muito orgulho, falar de um setor ou rede Passive House com bastante massa crítica. Estes 10 anos de trabalho serviram para criar e fortalecer esta rede Passive House em Portugal. Durante este percurso, como é natural, houve momentos de menor e de maior aceleração, houve parcerias e envolvimento em redes e grupos de trabalho que não partilhavam a mesma visão. O fortalecimento da rede Passive House passa por trabalhar junto dos fabricantes para promover os componentes e produtos adequados à Passive House, por continuar a divulgar a Passive House para o público geral, continuar a fazer crescer o número de profissionais e técnicos com formação Passive House e por trabalhar junto das universidades com atribuição de bolsas para a formação oficial Passive House e no desenvolvimento de teses e investigação sobre a Passive House.
Nos diferentes cursos oficiais Passive House já temos mais de 500 formandos em Portugal, já é uma amostra interessante, mas ainda há muito trabalho para generalizar o conceito junto dos construtores, dos técnicos e projetistas.
Essa foi uma das principais preocupações desde o início, estabelecer e fortalecer a ligação aos fabricantes e detentores de sistemas. Eles são um dos pilares da rede Passive House em Portugal. Temos como parceiros, empresas multinacionais onde a Passive House já está no seu core nas ‘casas-mãe’ mas também muitas empresas nacionais a apostarem na diferenciação através da Passive House. Temos já alguns componentes Passive House certificados de empresas portuguesas.
Este envolvimento dos parceiros é benéfico para todas as partes porque finalmente começa a haver a valorização, tecnicamente fundamentada, dos bons componentes construtivos e porque os parceiros são também um privilegiado veículo de disseminação da Passive House.
A ideia de conforto está inerente à ideia de uma Passive House e podemos integrá-la no conceito mais alargado de qualidade do ambiente interior. Estamos a falar de conforto térmico em toda a sua dimensão, não só a temperatura operativa, mas também a ausência de assimetrias relevantes entre a temperatura operativa e as temperaturas superficiais no compartimento e a ausência duma elevada estratificação da temperatura em altura no compartimento. Mas também falamos de conforto acústico e de boa qualidade do ar.
E esta qualidade do ambiente interior é um dos principais aspetos para avaliar o desempenho de um edifício. Outro é a quantidade de energia necessária para operar o edifício e assegurar essa qualidade do ambiente interior. E a otimização do desempenho ocorre, sobretudo, ao nível do projeto e das primeiras opções tomadas no projeto de arquitetura. Para além dos cinco pilares da Passive House (isolamento adequado, boas janelas, minimização das pontes térmicas, estanquidade ao ar da envolvente do edifício e ventilação mecânica com recuperação de calor) há ainda outras estratégias de projeto para otimizar o desempenho como a simplicidade, a forma e a orientação do edifício.
Dada a realidade do setor da construção em Portugal, diria que o maior desafio está em alcançar o requisito da estanquidade ao ar, uma vez que é algo que não é exigido regulamentarmente, ao contrário de grande parte dos países europeus, nem é medido regularmente nas construções.
As janelas são o elemento crucial na envolvente de qualquer edifício, em geral, e na Passive House, em particular. As janelas são o elemento construtivo da envolvente com o mais elevado valor de U (coeficiente de transmissão térmica) e que pode ser 4 ou 5 vezes superior ao valor de U das paredes ou cobertura, por exemplo. Mas por outro lado, as janelas são o elemento construtivo da envolvente que permite ter efetivos ganhos de calor, por via da radiação solar. As janelas são também, normalmente, muito mais caras que as soluções de parede ou cobertura, por metro quadrado. Por tudo isto e para otimizar o desempenho e o custo benefício, tem de haver um grande cuidado da definição e prescrição da solução de janelas e que envolve desde a escolha do tipo de caixilharia ao sistema de abertura e funcionamento, desde o tipo de vidro (duplo ou triplo) e das capas ao do gás que preenche a câmara, desde o perfil intercalar que separa os vidros até à instalação da janela e à forma como ela é ligada ao suporte.
As janelas são o elemento crucial na envolvente de qualquer edifício, em geral, e na Passive House, em particular
Existem quatro edifícios certificados e seis em processo avançado de certificação. À semelhança do que ocorre a nível internacional, os edifícios certificados representam uma pequena fração de todas as Passive Houses. O processo de certificação representa a garantia do cumprimento de todos os requisitos, com a verificação por parte de um certificador acreditado pelo Passivhaus Institut. É um processo que acompanha as fases de projeto e de construção, sendo por isso muito longo e exigente. Mas é a certificação que permite separar o trigo do joio.
O foco do trabalho da Associação Passivhaus Portugal nestes 10 anos esteve e continuará a estar no fortalecimento e crescimento da rede Passive House no País e na divulgação e disseminação do conceito. A rede Passive House assenta sobretudo na relação com os fabricantes e marcas, na capacidade instalada ao nível de técnicos, consultores e projetistas, que possibilite a construção de Passive Houses em qualquer parte do País, e na relação com a academia onde foram estabelecidos protocolos com algumas universidades, faculdades e departamentos e já com resultados. Ao nível da divulgação e disseminação do trabalho, tem passado desde o início em disponibilizar o máximo de informação de qualidade no nosso site de forma totalmente livre e acessível a todos. Falamos, por exemplo, de todo o conteúdo das conferências, seminários e workshops, da base de dados de soluções construtivas dos parceiros da rede, ou das muitas dezenas de artigos do blog. E vamos ter outras novidades muito em breve.
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