PERFIL 49 Quais os principais desafios do setor da construção e reabilitação? O setor da construção e reabilitação em Portugal enfrenta vários desafios estruturais, entre os quais o envelhecimento do parque edificado, maioritariamente ineficiente em termos energéticos, a escassez de mão de obra qualificada, e o custo das obras de reabilitação, o que torna o acesso ainda mais difícil às famílias vulneráveis, O que é agravado por dificuldades no processo de financiamento, pelos processos burocráticos complicados e pela capacidade de financiamento que é muito diminuta. Temos visto isso recentemente, com a aplicação das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência. A integração de critérios de resiliência climática nas intervenções é, assim, ainda muito limitada. Mas também o próprio planeamento à escala, o planeamento urbano integrado a nível do bairro é ainda extremamente lento e escasso, e não integra ainda esta questão da segurança climática. O setor é também marcado por uma grande fragmentação empresarial e, além disso, não temos em Portugal uma cultura de manutenção preventiva que poderia reduzir os riscos futuros. De que forma Portugal poderá aumentar a eficiência e resiliência climática das suas estruturas? Acima de tudo, através de apoios públicos. E esses apoios públicos passam por envolver as comunidades, simplificar procedimentos, promover qualificação profissional, nomeadamente na área da literacia energética, incentivar soluções integradas, sustentáveis. Ou seja, sabemos a receita, mas falta-nos passar à ação e não temos conseguido chegar às pessoas. Muitos dos programas e dos investimentos que temos de apoios públicos, até com verbas comunitárias da União Europeia, não têm conseguido chegar a quem precisa. Portanto, é necessária toda uma cadeia de conhecimento e de implementação que não temos e que as Juntas de Freguesia, a Agência de Energia, não têm conseguido pôr a funcionar. Isso vê-se no Vale Eficiência e nos novos programas, com novos nomes, mas que se estão, aliás, a desviar do principal objetivo, que é desenvolver ações mais resilientes. As metas definidas pela Comissão Europeia são realistas? São realmente muito ambiciosas. E são tecnicamente possíveis, mas o montante de financiamento é enorme e a sua concretização também envolve vontade política e mobilização de todos os setores da sociedade, para começarmos esta vaga de renovação e melhorarmos a resiliência climática das cidades de forma integrada. Portanto, acho que ainda não temos noção, no país, do esforço que esta resposta à legislação comunitária exige, naquilo que é transformar a herança enorme de um edificado que não está preparado para lidar com este clima em mudança, até mais rápida do que se esperava. n
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