O desenho das fachadas e dos vãos não deve ser encarado apenas como um exercício formal ou funcional, mas como uma oportunidade para criar edifícios mais equilibrados, eficientes e alinhados com os desafios ambientais e sociais contemporâneos O desafio da reabilitação está precisamente em saber equilibrar o valor histórico e cultural das préexistências com soluções técnicas e construtivas que permitam responder às exigências do presente — construindo edifícios mais confortáveis, mais eficientes e mais resilientes, sem abdicar da sua identidade PERFIL 62 escolha dos materiais e nas estratégias de proteção. Fachadas a norte exigem respostas distintas das fachadas a poente, por exemplo, em termos de isolamento, sombreamento e ventilação. A vegetação aplicada em pérgulas, jardins verticais ou sistemas de sombreamento móvel pode, quando bem dimensionada, contribuir para mitigar ganhos solares excessivos no verão, permitir maior entrada de luz natural no inverno e melhorar a qualidade do ar exterior junto às aberturas. Do ponto de vista tecnológico, as ferramentas de simulação energética e ambiental — disponíveis desde as fases iniciais de projeto — permitem hoje antecipar com precisão o impacto térmico, lumínico e energético de diferentes soluções de fachada e envidraçados. Estas simulações informam e fundamentam as decisões de projeto, permitindo otimizar o desempenho global do edifício sem comprometer a sua relação com o ambiente envolvente. A integração de materiais naturais e tecnologias passivas não é, portanto, um exercício formal ou decorativo, mas uma estratégia consciente e contextualizada, que conjuga eficiência, durabilidade e respeito pelo lugar. De que forma o desenho de fachadas e janelas com elementos naturais pode influenciar a perceção estética e funcional dos espaços urbanos? O modo como projetamos fachadas e janelas tem um impacto profundo na forma como os espaços urbanos são vividos, percebidos e apropriados pelas pessoas. Estes elementos não são apenas componentes técnicos da envolvente dos edifícios — são também protagonistas da paisagem urbana, com capacidade para qualificar o espaço público, criar identidade e promover relações mais equilibradas entre construção e natureza. A presença de materiais naturais, o uso inteligente da vegetação, a variação de texturas, sombras, profundidades e ritmos nos alçados permite introduzir maior complexidade sensorial e expressividade nos edifícios. Estas soluções podem quebrar a monotonia das fachadas convencionais e contribuir para um ambiente urbano mais humanizado, onde a escala, a matéria e a luz estão ao serviço da experiência do habitante. Do ponto de vista funcional, a articulação entre janelas, sombreamentos, varandas, sistemas de ventilação natural ou dispositivos de proteção solar pode melhorar significativamente o desempenho energético dos edifícios e, ao mesmo tempo, criar condições mais agradáveis para o uso quotidiano. Estas soluções ampliam a interface entre interior e exterior, reforçando o conforto dos espaços interiores e promovendo uma maior conexão com o ambiente envolvente — seja visual, térmica ou acústica. Num momento em que as cidades enfrentam desafios complexos relacionados com a densidade, as alterações climáticas e a qualidade do espaço público, é fundamental que o desenho da envolvente dos edifícios contribua para um urbanismo mais sensível e sustentável. Fachadas que respiram, que se adaptam, que incorporam materiais locais e elementos naturais, não só aumentam a eficiência e o conforto, como também contribuem para a construção de uma cidade mais resiliente, mais bela e mais centrada na experiência humana. n
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