Pedro Frade, antigo aluno do doutoramento em Sistemas Sustentáveis de Energia no Instituto Superior Técnico (IST), é o grande vencedor do prémio 'Inovação Jovem Engenheiro' (PIJE 2020), arrecadando o 1.º prémio atribuído pelo júri do galardão. A importância desta distinção, a transição energética e o futuro da engenharia portuguesa foram alguns dos temas abordados nesta entrevista.
A engenharia portuguesa é altamente prestigiada a nível global. O reconhecimento da qualidade daquilo que se faz em Portugal, ao nível técnico e tecnológico é categórico, nas mais diversas áreas da Engenharia. Não só em Portugal, mas também pelos engenheiros portugueses além-fronteiras, o que é demonstrativo da excelente formação em engenharia ministrada pelas universidades portuguesas. Tive o privilégio de ter excelentes professores ao longo de todo o meu percurso académico. Veja-se que a engenharia é um dos principais motores de crescimento da economia, sendo que sem a mesma não existiria desenvolvimento. Particularmente, tenho bastante orgulho em ser engenheiro e procuro todos os dias dar o meu contributo para termos um país (e um mundo) melhor e mais sustentável, onde os meus filhos se orgulhem de poder viver.
Entre 2015 e 2020 decidi abraçar o desafio de fazer o doutoramento em 'Sistemas Sustentáveis de Energia', enquanto desenvolvia a minha atividade profissional na Gestão Técnica Global do Sistema Elétrico. Procurei aproximar a indústria da academia, criando sinergias que permitam promover o surgimento de soluções técnico-económicas inovadoras. É extremamente importante que as universidades e a indústria tenham uma maior proximidade, no sentido de providenciarem soluções sustentáveis e efetivas para os desafios de setor energético. Resumidamente, neste trabalho procurei estudar e investigar soluções que, simultaneamente, permitam manter a fiabilidade e robustez do sistema elétrico, no atual paradigma de transição energética, sem incremento de custos.
As alterações climáticas são um dos grandes desafios da humanidade no presente século, diria mesmo que o mais impactante. A mudança é urgente, para que as gerações vindouras possam ter um planeta em condições de habitabilidade dignas. Além destes desígnios globais, de suma importância, no caso particular português, não sendo produtor de nenhum combustível fóssil, temos um redobrado interesse em acelerar o processo de transição energética, no sentido de aumentar a utilização de recursos endógenos, o que permite, simultaneamente, aumentar a independência energética, bem como reduzir os custos com a energia. Os desafios serão grandes, alguns deles, aliás, bastante complexos, tanto ao nível do setor elétrico, do setor dos transportes ou, ainda, da indústria. Não obstante, é imperativa a descarbonização da nossa economia. Um dos desafios neste processo será também garantir que esta transição será justa, providenciando mecanismos e políticas públicas adequadas para que se faça de uma forma segura, sustentável e inclusiva.
Dos três pontos que elenquei, o setor elétrico será aquele que verificará uma transformação mais evidente, no curto prazo. Esta transformação será observada em toda a sua cadeia de valor: desde a produção, onde progressivamente se está a investir em geração renovável com o intuito de reduzir a produção através de combustíveis fósseis, passando pelo transporte e distribuição de energia, onde as redes elétricas terão de se adaptar ao novo paradigma da produção descentralizada. A digitalização terá também um papel fundamental nos sistemas de energia elétrica onde permitirão, entre outras coisas, um aumento da flexibilidade do lado dos consumidores. Estes passarão a ter um papel mais ativo nos sistemas de energia elétrica. Portugal encontra-se relativamente bem preparado. Sem prejuízo, será necessário continuar os investimentos no setor, de forma estruturada, mantendo uma visão holística, para que este processo de transição se observe com a menor entropia possível.
É fundamental a existência de prémios desta natureza, que premeiem e fortaleçam a promoção da engenharia portuguesa, e em particular, dos jovens engenheiros. É importante dar a conhecer aquilo que se faz em Portugal. A engenharia portuguesa é pautada por padrões de elevada qualidade, que começa na formação e se estende a todas as suas áreas de atuação. É, sem dúvida, um bom exemplo de reconhecimento, que deverá continuar a ser estimulado.
Um prémio que vai na 30.ª edição
Pedro Frade foi, assim, o grande vencedor do Prémio Inovação Jovem Engenheiro (PIJE 2020), arrecadando o 1.º prémio atribuído pelo júri do galardão. Vítor Camacho e José Gonilha, antigos alunos do doutoramento em Engenharia Civil, arrecadaram, respetivamente, o 3.º prémio e uma menção honrosa.
O galardão – no valor de 10 mil euros – é entregue anualmente aos autores dos melhores trabalhos de investigação elaborados por licenciados em engenharia com menos de 35 anos.
Promovida pela Região Sul da Ordem dos Engenheiros desde 1990, esta iniciativa de âmbito nacional, que vai já na 30.ª edição, tem como objetivo distinguir os trabalhos que se evidenciem pelo seu caráter inovador e aplicabilidade prática.
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