Informação profissional sobre a Envolvente do Edifício
“As casas têm que ser o mais passivas possíveis, ou seja, sem necessidade de diversos equipamentos para aquecimento e arrefecimento”

Entrevista com Susana Lucas, Engenheira Civil

Sónia Ramalho12/07/2023
O gosto pelas áreas técnicas e o foco na solução dos problemas fez com que Susana Lucas, Engenheira Civil, optasse pela formação em Engenharia, com destaque para a construção sustentável. O projeto que desenvolveu na Guarda – a primeira casa de cortiça da região – é resistente ao fogo, mantém a temperatura regular no verão e inverno e beneficia da energia solar para abrir e fechar janelas. À NovoPerfil revela como surgiu a ideia para este projeto e a sua opinião sobre o conceito de Passive House.
Localizada em Famalicão da Serra, a primeira casa de cortiça da região é resistente ao fogo...

Localizada em Famalicão da Serra, a primeira casa de cortiça da região é resistente ao fogo, mantém a temperatura regular no verão e inverno e beneficia da energia solar para abrir e fechar janelas.

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Como surgiu o interesse pela Engenharia?

A formação em Engenheira foi algo quase “natural” pois sempre gostei das áreas mais técnicas. Além disso, sempre fui focada na solução e julgo que esse é o perfil de qualquer pessoa para ser engenheira, além de um gosto enorme em estar sempre a aprender.

O que a fez dedicar mais atenção à área da construção sustentável?

Foi uma área que “veio” até mim, através de participação em congressos sobre construção sustentável, e também por ter começado a lecionar sobre o tema.

Em Portugal, como estamos em matéria de construção sustentável?

Já estamos numa fase em que o promotor e o cliente final querem que os seus projetos tenham tendencialmente materiais mais naturais e “amigos do ambiente”. Quando questionados sobre o que gostariam mais - uma casa sustentável ou uma casa convencional -, julgo que a maioria iria eleger para a primeira opção.

Além disso, a legislação tem vindo igualmente a promover a escolha de soluções sustentáveis, nomeadamente o uso de energias renováveis, e a comunicação social também tem feito um ótimo trabalho na divulgação de soluções, bem como em apresentar possibilidades dentro desta área.

Este tipo de construção vai ser uma tendência cada vez maior no futuro?

Julgo que sim. Tem que ser e a nível europeu é um tipo de construção que já está muito implementado.

Como as empresas em Portugal podem adaptar-se a esta nova realidade da construção sustentável?

As empresas já têm as soluções no mercado, pelo menos europeu, por isso a adaptação é mesmo uma evolução. Temos que analisar os edifícios de uma forma global, não apenas o investimento inicial. A sua utilização, manutenção e operação são muito relevantes na escolha de soluções.

Sobre a construção da primeira casa de cortiça na região da Guarda, como surgiu a ideia e o que implementou de diferente a nível da escolha dos materiais de construção?

O projeto começou quando me apaixonei pelo local e por considerar a hipótese de ter uma casa na Serra da Estrela. A solução surgiu com base no que já tinha utilizado noutra casa que construí, em Peniche, mas com as respetivas adaptações.

No caso da Guarda, mais concretamente em Famalicão da Serra, o projeto teve a aprovação do Município para realizar as fachadas revestidas a cortiça, o que não tinha acontecido em Peniche. Ainda foi aplicada pelo interior mais cortiça, antes do revestimento final, que será em OSB.

Já as instalações sanitárias serão revestidas em PVC reciclado 100% impermeável. A ideia é que a casa não necessite de muita manutenção, dado que o seu uso será esporádico.

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Qual foi a reação da equipa que a ajudou na construção da casa? Tinham conhecimento destes novos materiais?

Inicialmente ficaram apreensivos pois não conheciam os materiais, mas na realidade tornou os trabalhos muito mais simples e limpos, em especial nas instalações prediais. Até já existe mesmo quem queira fazer uma casa do mesmo tipo.

Qual a sua opinião sobre o conceito de Passive House? Há espaço de crescimento em Portugal?

As casas têm que ser o mais passivas possíveis, ou seja, sem necessidade de diversos equipamentos para aquecimento e arrefecimento. Está provado que é possível ter casas assim com o nosso clima. As pessoas, além de utilizarem as suas casas, têm de perceber e funcionar com elas, perceber o seu funcionamento.

O que a levou a escrever o livro “Da Manutenção Preventiva à Gestão Sustentável de Edifícios”?

Comecei a lecionar uma unidade curricular sobre Conservação e Manutenção Preventiva de Edifícios no mestrado de Conservação e Reabilitação do Edificado da ESTBarreiro/Instituto Politécnico de Setúbal. Na altura, verifiquei que a bibliografia existente estava muito relacionada com os equipamentos dos edifícios e nunca se tinha abordado a componente construtiva.

Além disso, os alunos começaram a desenvolver um plano de manutenção de edifícios públicos, tendo verificado que nenhum desses edifícios tinham qualquer informação relativa à manutenção dos mesmos.

Assim, considerei que seria importante sistematizar a informação. Neste momento tive um aluno que efetuou o trabalho de projeto deste mestrado sobre a Biblioteca Nacional de Portugal. Espero passar esse exemplo também a livro para ter um exemplo prático sobre como o fazer.

Quais os seus planos a curto e a longo prazo?

Neste momento estou a coordenar o BUILD2050, um projeto europeu com seis instituições de ensino superior da Europa, de um piloto de formação, com oito cursos de curta duração (25 horas por curso divididas em cinco horas/semana), sobre os temas que se consideram necessários para os edifícios que se pretendem descarbonizados até 2050. Tem sido uma experiência incrível, tanto que em cada curso existem formadores e formandos (a maioria profissionais) de vários países da Europa.

A longo prazo, considero que temos que pensar as casas/edifícios como focados para as pessoas, ou seja, humanizados. Costumo dizer que temos três casas: o nosso corpo, o planeta e a casa que construímos, que veio criar uma separação entre nós e o ambiente natural.

Por isso, temos de ter casas que sejam mais adaptadas às necessidades das pessoas, que não criem barreiras à nossa ligação com o ambiente natural. Porque a nossa saúde e o nosso bem-estar estão diretamente relacionados com os edifícios.

Estou a começar a “desenhar” projetos de investigação e formação que se foquem mais nessas áreas, bem como a capacidade de os edifícios serem resilientes tanto à mudança da tipologia e frequência de uso (julgo que depois da pandemia existiu quem verificasse que a sua casa não estava preparada para tanto tempo seguido de utilização), como às alterações externas não previstas.

Como surgiu a ideia de criar o site seibysusana.com?

A ideia para o site surgiu no seguimento de um curso sobre negócios sustentáveis que fiz em Bolonha, em 2016. Fiz a apresentação do trabalho que tinha efetuado no segundo doutoramento sobre gestão sustentável em instalações desportivas e uma colega sugeriu que a informação fosse disponibilizada num site dedicado ao tema. Em 2017 apareceu o site, uma plataforma online de sustentabilidade, saúde, engenharia e inovação, que atualmente disponibiliza informação sobre todas estas temáticas.

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