Fachadas que respiram, que se adaptam e que incorporam materiais locais e elementos naturais não só aumentam a eficiência e o conforto, como também contribuem para a construção de uma cidade mais resiliente, mais bela e mais centrada na experiência humana.
O desenho das fachadas e dos vãos não deve ser encarado apenas como um exercício formal ou funcional, mas como uma oportunidade para criar edifícios mais equilibrados, eficientes e alinhados com os desafios ambientais e sociais contemporâneos.
Frederico Roeber, partner do gabinete de arquitetura hori-zonte.
Quais os principais benefícios do desenho de fachadas, portas e janelas na promoção do bem-estar e da sustentabilidade nos edifícios?
O desenho cuidado de fachadas, portas e janelas desempenha um papel determinante na promoção do bem-estar dos utilizadores e na melhoria do desempenho ambiental dos edifícios. Na nossa prática, procuramos articular dois objetivos fundamentais: por um lado, garantir uma performance energética elevada, assente em soluções passivas; por outro, promover uma seleção consciente de materiais, com reduzida pegada carbónica e durabilidade comprovada.
As fachadas, enquanto elementos mediadores entre o exterior e o interior, devem ser concebidas com especial atenção, dado o seu impacto direto na qualidade do ambiente interior. A sua orientação, a exposição solar, a proteção contra o sobreaquecimento, o dimensionamento e posicionamento das janelas, bem como a escolha dos materiais e a sua inércia térmica, são fatores que, quando bem coordenados, contribuem para um maior conforto térmico, visual e acústico — reduzindo a dependência de sistemas ativos de climatização e de iluminação.
Para além da vertente técnica e energética, é essencial reconhecer a importância do contacto com o ambiente exterior — seja através da entrada de luz natural, da ventilação cruzada ou da relação visual com espaços verdes ou paisagens envolventes.
Estes elementos têm um impacto direto no bem-estar físico e psicológico dos ocupantes, promovendo ambientes mais saudáveis, agradáveis e adaptados à experiência humana.
Acreditamos, por isso, que o desenho das fachadas e vãos não deve ser encarado apenas como um exercício formal ou funcional, mas como uma oportunidade para construir edifícios mais equilibrados, mais eficientes e mais alinhados com os desafios ambientais e sociais contemporâneos.
Nestes casos, a prioridade passa por otimizar a envolvente interior através de soluções eficazes de isolamento térmico e pela melhoria das condições de ventilação, iluminação natural e inércia térmica.
Quando não é possível alterar significativamente a composição da fachada, a introdução de sistemas mecânicos eficientes — nomeadamente de climatização, ventilação e renovação de ar — pode ser fundamental para garantir níveis adequados de conforto térmico e qualidade do ar interior, sem comprometer os elementos arquitetónicos a preservar. Esta estratégia permite equilibrar a preservação do património com os requisitos contemporâneos de habitabilidade e desempenho energético. É também importante sublinhar que a reabilitação, por definição, parte de uma lógica de continuidade e de valorização do existente.
Ao manter a estrutura e os materiais que ainda cumprem a sua função, minimiza-se a necessidade de nova matéria-prima, reduz-se a produção de resíduos e, consequentemente, a pegada carbónica global da intervenção.
Sempre que possível, deve-se reaproveitar elementos construtivos resultantes da demolição parcial, assim como recorrer a materiais de baixo impacto ambiental, com ciclos de vida mais sustentáveis.
Finalmente, o desafio da reabilitação está precisamente em saber equilibrar o valor histórico e cultural das pré-existências com soluções técnicas e construtivas que permitam responder às exigências do presente — construindo edifícios mais confortáveis, mais eficientes e mais resilientes, sem abdicar da sua identidade.
Na nossa prática, a escolha de materiais e tecnologias para fachadas e vãos está fortemente orientada pela performance energética e pela coerência com o contexto local. Quando se procura integrar elementos naturais no desenho, é fundamental garantir que a sua origem, comportamento térmico e durabilidade contribuam de forma positiva para o conforto interior e para a redução do impacto ambiental do edifício.
Materiais com base em terra crua, argila, pedra natural ou fibras vegetais são bons exemplos de soluções construtivas que, além de responderem bem às exigências térmicas e higrotérmicas, apresentam uma pegada carbónica reduzida. A sua aplicação deve ser criteriosa e sensível ao local — privilegiando sempre matérias-primas regionais e espécies vegetais autóctones, quando se recorre a soluções que envolvem vegetação.
Esta lógica de proximidade não só reduz os impactos associados ao transporte e ao processo industrial, como assegura uma maior adequação ecológica e funcional.
A orientação solar dos edifícios e o comportamento térmico das fachadas são também determinantes na escolha dos materiais e nas estratégias de proteção. Fachadas a norte exigem respostas distintas das fachadas a poente, por exemplo, em termos de isolamento, sombreamento e ventilação.
A vegetação aplicada em pérgulas, jardins verticais ou sistemas de sombreamento móvel pode, quando bem dimensionada, contribuir para mitigar ganhos solares excessivos no verão, permitir maior entrada de luz natural no inverno e melhorar a qualidade do ar exterior junto às aberturas.
Do ponto de vista tecnológico, as ferramentas de simulação energética e ambiental — disponíveis desde as fases iniciais de projeto — permitem hoje antecipar com precisão o impacto térmico, lumínico e energético de diferentes soluções de fachada e envidraçados. Estas simulações informam e fundamentam as decisões de projeto, permitindo otimizar o desempenho global do edifício sem comprometer a sua relação com o ambiente envolvente.
A integração de materiais naturais e tecnologias passivas não é, portanto, um exercício formal ou decorativo, mas uma estratégia consciente e contextualizada, que conjuga eficiência, durabilidade e respeito pelo lugar.
O modo como projetamos fachadas e janelas tem um impacto profundo na forma como os espaços urbanos são vividos, percebidos e apropriados pelas pessoas. Estes elementos não são apenas componentes técnicos da envolvente dos edifícios — são também protagonistas da paisagem urbana, com capacidade para qualificar o espaço público, criar identidade e promover relações mais equilibradas entre construção e natureza.
A presença de materiais naturais, o uso inteligente da vegetação, a variação de texturas, sombras, profundidades e ritmos nos alçados permite introduzir maior complexidade sensorial e expressividade nos edifícios. Estas soluções podem quebrar a monotonia das fachadas convencionais e contribuir para um ambiente urbano mais humanizado, onde a escala, a matéria e a luz estão ao serviço da experiência do habitante.
Do ponto de vista funcional, a articulação entre janelas, sombreamentos, varandas, sistemas de ventilação natural ou dispositivos de proteção solar pode melhorar significativamente o desempenho energético dos edifícios e, ao mesmo tempo, criar condições mais agradáveis para o uso quotidiano. Estas soluções ampliam a interface entre interior e exterior, reforçando o conforto dos espaços interiores e promovendo uma maior conexão com o ambiente envolvente — seja visual, térmica ou acústica.
Num momento em que as cidades enfrentam desafios complexos relacionados com a densidade, as alterações climáticas e a qualidade do espaço público, é fundamental que o desenho da envolvente dos edifícios contribua para um urbanismo mais sensível e sustentável.
Fachadas que respiram, que se adaptam, que incorporam materiais locais e elementos naturais, não só aumentam a eficiência e o conforto, como também contribuem para a construção de uma cidade mais resiliente, mais bela e mais centrada na experiência humana.
Frederico Roeber
Partner do gabinete de arquitetura hori-zonte
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