Durante a última década, o setor da construção investiu fortemente em soluções e materiais certificados como sustentáveis. No entanto, os resultados práticos continuam a desiludir. O Sustainability Report 2025 do Royal Institution of Chartered Surveyors (RICS) mostra que a procura por edifícios sustentáveis está a perder fôlego e que muitos projetos ficam pelo caminho devido a custos iniciais elevados e à falta de provas claras de retorno do investimento.
A procura global por imóveis sustentáveis caiu de 41% para 30%, segundo o relatório. Entre investidores e promotores, 35% a 46% apontam a incerteza sobre o retorno financeiro, os períodos de payback e as poupanças operacionais como o principal obstáculo. O problema não está na ambição ambiental, mas na dificuldade em demonstrar desempenho real ao longo da vida útil do edifício.
Para os especialistas da Exergio, empresa dedicada à eficiência energética com recurso a inteligência artificial (IA), o setor está bloqueado por três falhas estruturais: fraca procura, valor económico pouco quantificável e uma desconexão entre projeto, certificação e operação. Mesmo edifícios certificados continuam a falhar metas energéticas e climáticas quando entram em funcionamento.
Neste contexto, a envolvente do edifício - janelas, fachadas e sistemas de controlo solar - assume um papel determinante. São estes elementos que influenciam diretamente as cargas térmicas, o conforto interior e o consumo energético. No entanto, na maioria dos casos, o seu desempenho real não é monitorizado nem otimizado após a conclusão da obra.
“Os investidores não rejeitam a sustentabilidade; exigem provas de que ela gera retorno”, afirma Donatas Karciauskas, CEO da Exergio. “Se o desempenho energético não se traduz em poupanças mensuráveis, as soluções sustentáveis deixam de ser escaláveis”.
Segundo a empresa, a otimização de sistemas existentes através de IA pode reduzir o consumo energético em até 30% em grandes edifícios comerciais, representando poupanças superiores a um milhão de euros por ano. Resultados que ajudam a transformar desempenho técnico em argumento económico.
O relatório do RICS revela ainda um desfasamento claro entre ocupantes e investidores. Enquanto os utilizadores valorizam o conforto térmico, a qualidade do ambiente interior e a eficiência energética, os investidores continuam a focar-se sobretudo em certificações e classificações formais. Esta divergência contribui para edifícios bem classificados, mas com desempenho insuficiente em uso real.
A falta de medição agrava o problema. Cerca de metade dos profissionais do setor não mede carbono incorporado e apenas uma minoria utiliza esses dados para influenciar decisões de projeto. Sem monitorização contínua, o desempenho de fachadas, vãos envidraçados e sistemas passivos fica dependente de pressupostos, e não de dados concretos.
“Não é possível melhorar aquilo que não se mede”, sublinha Karciauskas. “Grande parte das decisões energéticas ainda se baseia em estimativas, não em evidência recolhida durante a operação do edifício”.
É aqui que a inteligência artificial surge como ferramenta estratégica para o setor da construção. Ao recolher dados em tempo real, interpretar o comportamento térmico do edifício e ajustar automaticamente os sistemas, a IA permite alinhar projeto, materiais e operação. Para um setor onde a performance da envolvente é decisiva, esta abordagem pode ser o elo em falta entre soluções técnicas de qualidade e resultados sustentáveis comprovados.
Num mercado cada vez mais exigente, a sustentabilidade deixará de ser apenas uma questão de certificação. Para janelas, fachadas e sistemas construtivos, o futuro passará por provar, em operação, aquilo que hoje se promete em projeto.
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